Era dia de capação, mais de
oitenta novilhos entraram na faca, porque mesmo parecendo brutal, a retirada
dos testículos (com faca afiada ou bisturi) ainda é menos traumática que
aqueles métodos onde, por exemplo, uma fita de borracha prende os cordões espermáticos
e a circulação de sangue, os testículos incham e depois murcham.
Laça o novilho já encurralado,
joga no chão, amarra as patas, mete a faca na bolsa escrotal, retira as bolas,
põe um larvicida para espantar moscas e solta o bicho no campo. Cada testículo de
novilho pesa em média 400 gramas, ou seja, cada animal rende quase um quilo de
culhões, carne muito tenra, saborosa, e com a fama de contribuir prá
masculinidade dos peões.
Dá prá preparar culhões de muitas
formas, algumas sofisticadas, mas a peãozada gosta mesmo é de culhão na brasa,
só com sal grosso.
O Parente é um peão criado na
lida do gado, o nome dele não sei, e pouca gente sabe, mas como trata todos por
PARENTE, é assim chamado. Sabe de tudo, cura bicheira, faz descorna, apara
casco de cavalo, põe trava nas ventas de bezerro desmamado, tira leite. Em tudo
tem a companhia de um molequinho gordito, cabelinho em carapinha colado na
cabeça. É o Josias, ou Jusias, como o Parente pronuncia.
- Cuida Jusias! É a palavra de ordem do Parente.
Cinco da manhã e encontro um lote
de cavalos na estrada da várzea, os animais vêm a galope, é o Jusias, tocando a
manada, montado em pelo (sem sela ou estribo). Ele só tem doze anos.
Uma bacia grande recebia os
culhões sangrentos, cada peão ia escolhendo quantos queria, bandava cada bola,
passava sal grosso, enfiava num espeto de galho de araçá e jogava em cima da
grade do braseiro. O Jusias comeu pelo menos uma dúzia de culhões. Haja disposição!