Semana passada um grupo de manifestantes pelos direitos dos animais invadiu as instalações de um laboratório que pesquisa e fabrica remédios para seres humanos (Instituto Royal). Ocorreu alí o resgate de uns 150 cães da raça beagle, que eram usados como cobaias para os mais diversos testes com drogas. Aparecem muitas visões sobre a questão, arrisco-me com uma.
Na nossa cultura de brasileiros - romanos tardios como falou Darcy Ribeiro - o cachorro não é alimento, e por aqui caem as posições extremas de gente que fala que se não pode matar cachorro não pode matar galinha, bode, porco ou boi. Ora este últimos fazem parte de nossa alimentação desde a formação de nosso povo. Eu acho uma putaria comer cachorro, mas não iria hostilizar vietnamitas por isso, lá faz parte da cultura deles e, nossos índios da Amazônia também comiam cachorros. No lindo filme "Dança com Lobos", o chefe Dez Ursos fala sobre a simplicidade de ser feliz: "um cobertor quente numa noite de inverno à beira da fogueira, um cozido de cachorro feito por minha mulher."
Bom, não posso passar ao largo de princípios, e aqui é o caso onde os direitos da natureza devem ser observados como algo muito maior que os direitos do homem, parte dessa natureza.
O Instituto Royal, uma oscip, postou na web uma nota se justificando:
Diz que "é um dos centros de referência no país para pesquisas em fármacos. Funciona desde 2007 e tem como objetivo principal o desenvolvimento de estudos inovadores em prol de vidas humanas, realizando testes pré-clínicos para medicamentos destinados ao tratamento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão, epilepsia entre outros." Reafirma "que os animais utilizados nas pesquisas sempre foram tratados com carinho, cuidado e respeito, dentro do bem estar animal etc etc". Tudo mentira, o que se extrai das imagens dos animais à hora do resgate.
Em Portugal, no início dos anos 90, lugares como a foz de rios - Aveiro, Mondego - exalavam fedor tão cruel que contaminava o trem que passava a quilometros. Eram fábricas de celulose avacalhando tudo, sem nenhum pudor. Portugal era o irmão pobre da então Europa dos Doze e alí era a área de serviço da Europa e não existia pecado. No caso dos beagles é a mesma coisa, com o agravante de ferir nossa sensibilidade cultural ao torturarem animais tão ligados a nós: os cachorros.