Fala o preceptor de Sanjaya:
Quando vi a pela película de Akira Kurosawa, dos idos de 1975, o meu tio Manduka ainda caminhava entre nós, no fim do outono da vida. Em tudo a figura do Dersu lembrava o Manduka.
Era meu tio-avô, irmão da mãe de minha mãe, nunca casou, era celibatário por opção, homem muito bonito, pequeno, de uma cultura que ainda não encontrei igual, foi um dos seres humanos mais sábios que me deparei na vida, embora não soubesse ler nem escrever, mas sabia das chuvas e dos verões, entendia a mensagem dos cantos dos pássaros, respeitava os limites impostos pela mata, tecia com rapidez um jamaxim, um tupé, um panaco, um paneiro, armava um mutá em minutos.
O Manduka tratava com índios bravios dos afluentes do Rio Tapauá e do Rio Mucuim, passava meses entre eles, também trabalhou anos com japoneses emigrados que não falavam uma palavra de português, era amigo deles, comia peixe cru com eles. Ele não caçava nem pescava, mas era capaz de passar meses na mata, e saia de lá bem alimentado, com frutas, palmito, raízes e ovos.
Meu doce Tio deixou poucos rastros, numa época onde fotografia era coisa rara.
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