quinta-feira, 13 de março de 2014

Dá o pé Louro! (parte 1)


No mês de novembro as  terras firmes e várzeas altas do baixo rio Solimões estão com suas mangueiras carregadas de frutos. Manguita, manga-massa, manga comum …
Os bandos de papagaios cacau atravessam o rio em bandos, vêm dos igapós, das várzeas baixas, onde aninham nos ocos de árvores. São milhares, num alarido que começa às primeiras luzes do dia e só calam na volta aos ninhos, com os sinais da noite que chega.
Vêm com os papos carregados de pedaços de mangas e de frutos selvagens, para alimentar seus ansiosos filhotes semi-pelados. Os pais regurgitam a massa semi-digerida diretamente nos bicos dos filhotes, e os aquecem na noite.
Um dia, na ausência dos pais, os filhotes quebram a regra da sobrevivência e emitem ruídos de desavenças por espaço no ninho. O cabôco que espreita as àrvores vizualiza o oco, ancora a canoa junto à árvore e escala o tronco até chegar ao ninho. Põe, um a um, os doze filhotes dentro de um saco de pano, desce, deixando somente indícios da ninhada feliz que alí habitou: penas e titica.
Largados em um saco abafado, oito filhotes não sobrevivem até chegar ao porto casa do cabôco. Lá, a mulher e duas filhas se encarregam de cuidar dos quatro sobreviventes. São abrigados em um pequeno paneiro forrado com trapos de pano, alimentados com mingau de farinha de mandioca, banana esmagada e pirão de peixe.
Crescem e ficam emplumados, penugem externa verde, interna vermelha e amarela, olhos vivos, uma tira roxa sobre os olhos, tal qual um samurai. Um dos filhotes passa a ser alimentado apartado dos demais, recebendo banha de caparari em sua dieta, em poucas semanas suas penas externas ficam multicoloridas de verde, vermelho, amarelo e azul.
Não vivem presos, nem suas asas foram cortadas, trepam nas goiabeiras, catam milho das galinhas, entram e saem da casa livremente. Fazem muito barulho, cantam pedaços de músicas que tocam no rádio e são repetidas pelas crianças, imitam o cantar do galo, repetem o que os humanos lhes ordenam: dá o pé louro!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente