No mês de novembro as terras firmes e várzeas altas do baixo rio
Solimões estão com suas mangueiras carregadas de frutos. Manguita, manga-massa,
manga comum …
Os bandos de papagaios cacau
atravessam o rio em bandos, vêm dos igapós, das várzeas baixas, onde aninham
nos ocos de árvores. São milhares, num alarido que começa às primeiras luzes do
dia e só calam na volta aos ninhos, com os sinais da noite que chega.
Vêm com os papos carregados de
pedaços de mangas e de frutos selvagens, para alimentar seus ansiosos filhotes
semi-pelados. Os pais regurgitam a massa semi-digerida diretamente nos bicos
dos filhotes, e os aquecem na noite.
Um dia, na ausência dos pais, os
filhotes quebram a regra da sobrevivência e emitem ruídos de desavenças por
espaço no ninho. O cabôco que espreita as àrvores vizualiza o oco, ancora a
canoa junto à árvore e escala o tronco até chegar ao ninho. Põe, um a um, os
doze filhotes dentro de um saco de pano, desce, deixando somente indícios da
ninhada feliz que alí habitou: penas e titica.
Largados em um saco abafado, oito
filhotes não sobrevivem até chegar ao porto casa do cabôco. Lá, a mulher e duas
filhas se encarregam de cuidar dos quatro sobreviventes. São abrigados em um
pequeno paneiro forrado com trapos de pano, alimentados com mingau de farinha
de mandioca, banana esmagada e pirão de peixe.
Crescem e ficam emplumados, penugem
externa verde, interna vermelha e amarela, olhos vivos, uma tira roxa sobre os
olhos, tal qual um samurai. Um dos filhotes passa a ser alimentado apartado dos
demais, recebendo banha de caparari em sua dieta, em poucas semanas suas penas externas
ficam multicoloridas de verde, vermelho, amarelo e azul.
Não vivem presos, nem suas asas
foram cortadas, trepam nas goiabeiras, catam milho das galinhas, entram e saem
da casa livremente. Fazem muito barulho, cantam pedaços de músicas que tocam no
rádio e são repetidas pelas crianças, imitam o cantar do galo, repetem o que os
humanos lhes ordenam: dá o pé louro!
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