sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Conto do Mundo de Sanjaya



O Japó Dourado

Toda manhã o japó dourado fazia seu lanche matinal no velho mamoeiro do campo, que se mantinha ainda robusto ao lado de uma abandonada privada dos homens.

O japó dourado comia os mamões maduros e derrubava as flores do velho mamoeiro. Terminava por levar, no papo, mamão amassado para os seus filhotes pelados, que aguardavam o pai, dentro do ninho de capim em forma de meia, pendurado no alto da samaúma.

Um dia, quando o japó terminou de comer, o chão ficou branco de flor de mamoeiro. O velho mamoeiro chorou silencioso e suas lágrimas da cor de leite escorreram pelas feridas abertas nos talos quebrados.

Tupana ficou penalizado e deu voz ao mamoeiro, para falar na língua dos japós. No dia seguinte, quando o japó dourado pousou em um dos talos, e antes de bicar um grande mamão de corda que começava a amarelar, o mamoeiro falou:

- Japó de penas douradas, da cor de meus mamões maduros no verão, tenho alimentado a ti e a teus filhotes de muitas ninhadas, por que me maltratas?

O japó assustou-se, porque não sabia que plantas podiam falar, deu dois pulos para os talos mais altos e respondeu:

- Como te maltrato, se só como frutos maduros, teus e de outros mamoeiros, e espalho sementes por toda essa beira de Rio Solimões, das várzeas do Arapapá à Costa do Barroso?

- Derrubas meus frutos verdes e minhas flores, quebras meus talos.

- Meu velho mamoeiro, caso não saibas, tu és mamão macho, por isso teus frutos são pendurados em uma corda. As tuas flores, que pareço derrubar com o simples toque de meu bico, não têm outra função senão trazer o pólen, que carrego no meu bico e vou fertilizar outros mamoeiros.

O velho mamoeiro agradeceu ao japó dourado e pediu desculpas. Agradeceu a Tupana, porque lhe deu voz para manifestar seu lamento e tirar suas dúvidas.

Desde então, o Japó Dourado continua a comer dos frutos do velho mamoeiro e alimentar seus filhotes que vivem no ninho em forma de meia, feito com capim trançado, no alto da samaúma.

O mamoeiro nunca mais chorou lágrimas cor de leite, ao ter um talo quebrado ou flores jogadas ao chão.


(Conto de autoria do preceptor de Sanjaya, publicado em 11 de abril de 2009)

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